Menos é mais, já dizia o arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe antes de 1969. Essa frase, que sempre expressou tão bem os conceitos do design, continua atual e define bem uma nova tendência de comportamento e consumo. O Lowsumerism, expressão derivada da contração das palavras low (baixo) e consumerism (consumo), surge como um desdobramento da recente e revolucionária economia compartilhada, que em tão pouco tempo causou um imenso impacto econômico e quebrou paradigmas de indústrias historicamente engessadas. A ideia central é muito simples: consumir menos com mais inteligência. 
Mas o que isso significa na prática?

Significa que, antes de fazer uma compra, o consumidor deve se fazer as seguintes perguntas:
1. Eu preciso disso?
2. Eu posso pagar por isso?
3. Eu não estou apenas querendo me sentir incluído ou afirmar minha personalidade?
4. Eu sei de onde este produto veio e para onde ele vai depois de consumido?
5. Eu não estou sendo iludido pelos comerciais ou ações de marketing?
6. Eu acho que essa compra prejudica o planeta?
Ao fazermos essa reflexão, podemos questionar: Como manter uma economia saudável se a partir de agora vamos consumir menos? Talvez este seja o ponto central de todo o movimento e estejamos entrando pela primeira vez em um processo de consumo invertido, que surge do micro para o macro, onde os pequenos comportamentos individuais é que vão ditar o ritmo e dar início a uma nova maneira de pensar o mundo.
Adotar uma postura lowsumer pode ir além de consumir menos. Consumir evitando exageros é importante, mas atitudes simples também fazem parte desse novo cenário. Como, por exemplo, consumir do pequeno comerciante do seu bairro ao invés de comprar das grandes redes de supermercado. Pode ser apoiar associações de moradores da sua comunidade ao invés de esperar pelo governo. Ou ainda, valorizar sua cultura local. Ou produzir hortas comunitárias e distribuir os alimentos para os moradores de uma região. E descartar e reaproveitar o lixo com inteligência. É pensar no ciclo do produto como um todo. É voltar a comprar — e exigir isso das marcas e empresas — utensílios que você possa mandar consertar quando quebrar, ao invés de comprar um totalmente novo, igual na época da vovó. O consumo também passa a ser visto como um ato social.
Tendo em vista esse cenário, devemos refletir sobre o papel do design como agente facilitador dos processos de mudança.

Ao inserirmos um sem número de variáveis em um contexto totalmente novo, um pensamento fundamentado no design pode facilitar o entendimento e a fluidez do comportamento lowsumer fornecendo ferramentas que sejam amigáveis ao consumidor. Essas ferramentas podem facilitar o acesso às informações de produtos, assim como a comunicação com fabricantes e marcas e também permitir um trabalho de co-criação entre consumidor e empresas. São muitas as possibilidades. Porém, ainda é fundamental que, em um mundo abarrotado de coisas, o processo do design continue relevante ao ajudar a desenvolver produtos e serviços que tenham o foco direcionado aos desdobramentos dos seus impactos no mundo. E nesse ponto, os pequenos novamente levam vantagem sobre os grandes, já que implementar qualquer tipo de mudança em uma grande organização é muito mais custoso, trabalhoso e demorado.
Um belo exemplo de empresa que surge nessa nova proposta é a Precious Plastic, criada pelo designer Holandês Dave Hakkens. A ideia foi criar máquinas que possibilitem o reaproveitamento de todo o plástico utilizado no nosso cotidiano ao invés de jogá-lo no lixo. Essas máquinas permitem triturar, extrudar, moldar, e injetar objetos plásticos em casa. E o melhor, você mesmo pode construir essas bugingangas utilizando ferramentas simples. Em seu site é possível aprender como fazer acompanhando detalhadamente o passo a passo em vídeos e desenhos técnicos: (www.preciousplastic.com).
Na época do DIY, mais do que nunca, consumir menos é mais. E ser pequeno pode ser uma vantagem competitiva gigante para quem estiver disposto a mudar de comportamento.
Publicado originalmente na edição 18 da revista Design Magazine (out/dez/2016)

PIERO LUCCHESI
Diretor da ADG, Designer e Ilustrador.
 
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